quarta-feira, outubro 27, 2004

Esqueletos no armário

Dali, daquele armário de mogno maciço, os esqueletos que o habitam resolveram dar uma festa.
De vestidos de casamento, saias rodadas, pantufas de coelhinhos e fragmentos de felicidade antiga, vieram até ao salão rodopiar valsas transparentes.
O baile durou o tempo que só os ponteiros sabem, até ser interrompido pela névoa soporífera de 2 comprimidos e um chá de camomila.
As portas do armário de mogno maciço voltaram a fechar-se.
Até uma próxima oportunidade...

quarta-feira, outubro 20, 2004

Trilogias

Há muito muito tempo, ou talvez não tanto quanto isso, havia uma senhora muito chique, toda pérolas, caviar e cremes (não necessariamente por esta ordem).
Nos cocktails e nas vernissages, a senhora pérolas, caviar e cremes esvaziava meticulosamente a garrafa do champanhe, e de “Möet et Chandon” no ouvido, corria para a parede oeste do seu “appartement”, para escutar a sua vizinha, toda risos, suspiros e sandálias de praia(também não necessariamente por esta ordem).
Um dia a senhora risos, suspiros e sandálias de praia mudou-se dali, deixando a senhora pérolas, caviar e cremes perante um dilema.
Nas reuniões dos AA, a senhora p.c.c. conheceu o senhor desemprego, futebol e violência doméstica (não necessariamente por esta ordem).

A partir desse momento, muitas horas foram gastas a discutir o vazio, o cinzento e a distância das estrelas.

domingo, outubro 17, 2004

"Rainy day"

Passei ontem duas horas a coçar-me, até que me bateu:
"Mas eu não tenho comichão!"
Já no banco, o gerente assegurou-me:
"Minha cara senhora, não se preocupe. Isso só quer dizer que tem crédito na nossa instituição para enfrentar pruridos futuros. E todos nós sabemos como é importante estarmos preparados para um "rainy day".

sexta-feira, outubro 15, 2004

Origami

Se eu sigo o meu caminho?
Sim, continuo por este lado e por aqui e por ali.
Dobro esquinas de papel de lustro, num complicado labirinto origami.
Evito cuidadosamente minotauros escondidos e cortes de papel sangrentos.
Por onde é a saída?
Não sei, mas aguardo ansiosamente o final feliz em forma de pássaro ou flor.

quarta-feira, outubro 13, 2004

"Bang Bang (My Baby Shot Me Down)"

"I was five and he was six
We rode on horses made of sticks
He wore black and I wore white
He would always win the fight

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down.

Seasons came and changed the time
When I grew up, I called him mine
He would always laugh and say
"Remember when we used to play?"

Bang bang, I shot you down
Bang bang, you hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, I used to shoot you down.

Music played, and people sang
Just for me, the church bells rang.

Now he's gone, I don't know why
And till this day, sometimes I cry
He didn't even say goodbye
He didn't take the time to lie.

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down..."

Nancy Sinatra - Kill Bill OST

sexta-feira, outubro 08, 2004

Espelho meu

"Espelho meu, existe alguém mais longe do que eu?"
"E vice-versa" respondia o espelho. (Resposta típica de espelho).
Então a Branca de Neve existencialista pegava nos seus óculos cor-de-rosa e ia discutir batons e poodles com as princesas dos naipes vizinhos.

domingo, outubro 03, 2004

Comprimido para dormir


Era uma vez um comprimido para dormir.
Abandonado pela amada, ostracizado pelos analgésicos, único na embalagem, entrou em depressão profunda.
Sentado num canto do frasco redondo, aguardava o fim da validade.
Um dia não aguentou mais, tomou-se a si próprio e morreu.